Vias de Parto
- Breno Gomes
- 17 de abr. de 2012
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de dez. de 2021
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma taxa de 15% de cesareanas nos partos realizados no mundo. Em 2010, o Brasil chegou a 52% de cesáreas, sendo o ano da inversão das taxas. Na rede pública (SUS) essa taxa é de, aproximadamente, 37% e, na rede privada, chega-se ao patamar de 82%. Em alguns serviços privados, a taxa já está se aproximando dos 100%!! Realmente, no nosso dia-a-dia nota-se que o parto normal (ou vaginal) vem se tornando uma raridade.
O Brasil está atravessando uma mudança cultural em relação a via do parto. Não quero entrar no mérito da questão, que possui defensores convictos dos dois lados. Cada um dos procedimentos possui vantagens, desvantagens e seus riscos inerentes. Gostaria apenas de discutir essa mudança de comportamento. Raro presenciarmos este tipo de mudança, que geralmente é muito lenta; entretanto, na era da informação (muita quantidade e pouca qualidade), isso tornou-se visível. No futuro, vou dizer que nasci de parto normal e vai ser um absurdo!
Quando decidimos mudar uma conduta ou prática já rotineira, nos pautamos em alguns fatores:
1. É mais eficiente
2. É mais confortável
3. É mais barato
4. É mais seguro
5. Todo mundo está fazendo assim
6. O melhor do mundo faz assim
7. A estatística mostra que é melhor
8. “Eu estou afim de fazer assim a partir de agora”
Os argumentos, na maioria das vezes, são legítimos, mas não possuem embasamento científico algum. Cientificamente falando, a alternativa 1 pode ser absolutamente igual a 8. Isso é fato. Depois da medicina baseada em evidência, ao contrário do que parece, ficou muito mais difícil provar algo sem questionamentos. Além disso, geralmente a verdade é muito duvidosa e recheada de segundas intenções. Em medicina, onde as variáveis são infinitas, a definição de certo ou errado é muito complicada.
Antigamente, as condutas eram baseadas em crendices, experiências passadas, suposições, poder da maioria, imposição dos mais fortes e na opinião dos especialistas. É… analisando friamente, acho que não mudou muita coisa não.
Não sou a favor das cesáreas eletivas, mas isso já é uma realidade que deve ser respeitada. Os riscos são maiores? Depende do ponto de vista. Nossa sociedade muda frequentemente para alternativas piores e os discursos de defesa e oposição são sempre muito semelhantes entre os temas. Sempre teremos os saudosistas que acharão as condutas antigas melhores, os “do contra” que vão morrer discordando, os “vira-folhas” que vão mudar de opinião várias vezes, e aqueles que, de tão convictos da eficiência da nova prática, abandonam as antigas com uma facilidade impressionante. Rimos bastante das condutas do passado, e nossos descendentes, com plena certeza, rirão muito das nossas.
Minha única preocupação é que os obstetras formados hoje não estão mais aprendendo a conduzir partos vaginais. O mercado não está oferecendo essa opção. Infelizmente, em breve, não será possível optar pelo parto normal. Hoje, a mulher que ainda opta pelo parto vaginal já é considerada uma corajosa. Pelas amigas e pelos próprios médicos! É isso que dói, uma conduta sabidamente adequada e segura ser abandonada como inútil ao longo dos anos. Divagando um pouco mais, quem sabe, em um futuro próximo, seja bacana voltar a ter parto normal.
Independente da via do parto, vale lembrar que a dificuldade maior inicia-se após o nascimento. Ensinar bons princípios, dar o exemplo e não deixar o filho ser criado só pela babá são desafios bem maiores…
Quando a episiotomia assusta mais que a cicatriz de uma cesárea, os valores já se inverteram, mudaram. Não adianta ficar discutindo ou brigando. Hoje em dia, cirurgia assusta muito pouco, vide as cirurgias plásticas. A ausência do medo promove uma banalização perigosa.
No futuro, utilizaremos algumas expressões para nos referirmos a coisas antigas ou ultrapassadas, tais como: mais antigo que serra… mais velho que guaraná de rolha… isso é de mil novecentos e Kafunga… mais antigo que andar para frente… isso é da época que o colo do útero dilatava…
Alguns dados científicos…

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