Todos aqueles que cuidam de pacientes graves já vivenciaram uma situação semelhante. Paciente grave, sem nenhuma perspectiva de cura, onde a medicina passa a exercer o seu mais nobre valor: o de confortar. Mesmo diante da impotência escancarada, o médico de verdade continua ali, ao lado do paciente e da família, até o derradeiro suspiro.
Após todo o desengano, agônico e sem nenhuma resposta consciente, eis que de repente ocorre uma melhora significativa e inexplicada. Milagre? Cura? O que aconteceu? Aqueles mais vividos conhecem bem o suspiro da morte.
O paciente terminal, extremamente grave, sem nenhuma explicação científica, arranja forças para melhorar sua condição clínica temporariamente. Quase sempre, antecedendo o desfecho fatal. Volta a conversar, interage com os familiares, alimenta-se um pouco melhor, aguarda a chegada de um ente querido e, literalmente, despede-se da família e dos amigos pouco antes de evoluir para o óbito.
Jamais li nada a respeito, mas já vivenciei inúmeros casos. A impressão é que o paciente busca o último fôlego de energia para se despedir.
Ontem assisti o filme “Os Descendentes”, concorrente ao Oscar, e achei muito interessante. A maneira com que a morte, um tema tão difícil, é abordada, me chamou a atenção. Suave, transparente e até gentil, nos faz pensar e repensar nos reais valores da vida. Recomendo.
Não recrimino ou desfaço de nenhuma forma de se enxergar o mundo. Simplesmente noto a nossa medicina alopática um pouco seca demais. A imensa maioria dos colegas não valoriza o poder dos sentimentos, da atenção. Existem inúmeras condições inexplicáveis pela medicina tradicional. Não se deve podar as esperanças e as crenças das pessoas e nem duvidar da força de vontade do ser humano. Tenho convicção que são tão importantes, ou mais, que muitos dos nossos remédios.
Como sempre, o equilíbrio é indispensável. Não acho que pneumonia se trata com reza. A fé, sem dúvida nenhuma, é importante. Não adianta prescrever o remédio certo se o paciente não confia. A receita vai para o lixo. O suspiro da morte não é regra; a presença do médico, ao lado do paciente e da família é.
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