Acabei a faculdade, inteiramente cru, e comecei a especialização em clínica médica no dia primeiro de janeiro de 2001. Sabia que seria um período de intenso aprendizado. Tive muita sorte. Dentre as muitas coisas que aprendi na especialização, a que mais me surpreendeu foi: o verdadeiro trabalho em equipe. Além de excelentes preceptores, o grupo era muito unido e forte. Felizmente, ao final da minha especialização fui convidado para entrar para a equipe de Medicina Interna do hospital. Estava realizado!
Talvez a falta de trabalho em equipe mais maciço na nossa classe explique parte desta falta de motivação. A maioria trabalha só. Quem opta por trabalhar sozinho, trabalha mais, estressa mais (não divide responsabilidades) e, certamente, ganha menos!
Montar uma equipe demanda muita disposição, paciência, disciplina, tempo e sorte. Toda equipe enfrenta momentos ruins e é aí que se afirmam. A divisão de tarefas precisa ser uma constante. Equipe não nasce pronta, se constrói ao longo do tempo. Uma boa equipe precisa da experiência e vivência dos mais velhos e da empolgação e inocência da juventude. Esta mescla é fundamental.
Outro ponto delicado que necessita de uma transparência enorme é o dinheiro. A divisão financeira deve ser clara e tendendo a equiparação em poucos anos. Exploração é incompatível com com equipe.
Estamos vivendo um grande crescimento nos empreendimentos hospitalares no Brasil, em Belo Horizonte não é diferente. Expansões e criações de novos serviços estão a mil por hora. Como já dizia o Dr. Aloísio Nascimento, grande clínico em Sete Lagoas, “construir uma casa é fácil, difícil é construir um lar.” Vários hospitais com infraestrutura impecável estão sofrendo com a carência de verdadeiras equipes. Agrupar profissionais não é montar equipe. A boa equipe precisa de um líder, uma referência. Uma liderança forte, que dê o exemplo, correta, democrática e organizada. Explorar o potencial máximo (e só isso) de cada um em prol do grupo. Um cresce puxando o outro. O apoio da alta direção é vital.
A formação de uma equipe passa pela definição do seu foco principal. Qualquer novo membro, obrigatoriamente, deve conhecer e possuir a essência do grupo. Pensando nisso, a melhor forma de criar, expandir e perpetuar a sua equipe é criando-a. Na área de saúde, torna-se indispensável a residência/especialização. Instituições que enxergam a residência/especialização como mão de obra barata, certamente terão dificuldades para permanecerem competitivas no mercado.
Os míopes em gestão não dividem o bolo por medo de perder a metade dele. Inocentes, serão engolidos pela concorrência ou pelo tempo. Agregar um bom profissional a sua equipe é sempre potencializar o seu poder. Lembre-se que o seu maior concorrente pode se tornar o seu melhor sócio.
Desde o início, em 1976, sempre valorizamos a formação dos nossos especializandos e residentes. Na nossa equipe, por exemplo, somos 12, destes, 11 formados por nós mesmos! O único que não fez clínica conosco já está na equipe há 15 anos!
O trabalho em equipe permite uma folga realmente despreocupada. Você se ausenta mas sua equipe não. Isto é qualidade de vida. Os clientes estarão sempre assistidos e o melhor, com o mesmo padrão de atendimento. Qualquer profissional descansado rende muito mais. Caso você não ligue para férias e seja autônomo, aí sim, trabalhe sozinho. Ah, mas não reclame!
Com o passar dos anos, os membros da equipe passam a uniformizar as condutas naturalmente. Criam-se filtros naturais de segurança. Quando um não enxerga, o outro vê e a chance de erro minimiza. O paciente sente-se acolhido e satisfeito. Isto é a essência da qualidade.
NOTA AOS GESTORES: Antes de investir em máquinas é preciso investir em equipes verdadeiras. No início, gasta-se tempo e dinheiro, isto é fato. A escolha do líder é fundamental. Os frutos serão colhidos com o tempo. Grandes empresas possuem grandes equipes. A parceria pelos resultados deve ser superior a competição e inveja individual ou de um certo grupo.
Gostaria de homenagear meus dois padrinhos e mestres: Dr. José Olinto Pimenta de Figueiredo e Dr. Renato Anderson Neves Pinto Silva. Eles abriram as portas da Medicina Interna do Hospital Felício Rocho para mim e me ensinam, diariamente, o verdadeiro sentido da palavra equipe. A eles, devo a maior parte do que sou profissionalmente. Muito feliz, este ano começo meu R12 em clínica médica na equipe de Medicina Interna do Hospital Felício Rocho!
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